corrupção
Leandrinho (nome fictício para preservar a identidade do garoto) tem a agitação típica dos meninos de 5 anos. Corre de um lado para o outro desviando da pouca mobília na casa de dois cômodos e sem reboco em que vive com a mãe e a irmã, na periferia de Iepê, cidade de pouco mais de 7 mil habitantes no sudoeste do Estado de São Paulo. Só pára quando percebe, desconfiado, a presença de estranhos. “Conta onde você esteve na segunda-feira, Leandrinho”, diz a mãe, Paula Jaqueline Lacerda. “Eu fui pra fazenda do tio Pino. Fui no avião dele.”
Quem olha para Leandrinho não deduz que o menino maltrapilho viaja de jatinho particular, diverte-se em fazendas suntuosas, possui três casas avaliadas em cerca de R$ 250 mil, um rebanho de cem cabeças de gado e uma poupança de R$ 10 mil no Banco Santander. Tudo graças ao tio Pino, modo como ele se refere a Agripino Lima, dono de fazendas, uma universidade, emissoras de TV e rádio em Presidente Prudente, a maior cidade do oeste de São Paulo, com 200 mil habitantes. Lá, Agripino Lima é o homem mais rico e o manda-chuva político. Já foi três vezes prefeito de Presidente Prudente, além de ter sido deputado estadual e deputado federal.
O Ministério Público de Presidente Prudente não acredita que a generosidade de Agripino Lima com Leandrinho seja apenas um exemplo de altruísmo. A suspeita é que ele tenha usado o menino como “laranja” (testa-de-ferro) para esconder uma suposta propina paga por empresários que têm contratos com a Prefeitura de Presidente Prudente. Como a investigação corre sob segredo de Justiça, os promotores não falam sobre o assunto. Mas há indícios que podem complicar Agripino Lima.
Duas das casas transferidas para o nome de Leandrinho nunca pertenceram oficialmente a ele. A proprietária era Maria de Lourdes Pinheiro, irmã de Oracir Pinheiro, dono da TCPP, a maior empresa de ônibus da cidade. Foi ela quem doou as propriedades ao pequeno Leandrinho. A operação aconteceu em dezembro do ano passado, dois meses após Agripino ter dado autorização para que a tarifa de ônibus da cidade saltasse de R$ 1,80 para R$ 2. A suspeita é que as casas doadas a Leandrinho tenham sido propina paga pela empresa TCPP.
Mas isso é comum, e o MP já denunciou várias dessas situações.
Nem sempre acontece algo.
Colocar bens em nome de crianças é uma forma segura de sonegar e criar maracutaias.
Não se esqueça de que menores de idade não podem ser presos por dívidas.
Brasil, Brasil.