O coreano Sung Un Song resistiu anos ao contrabando de placas-mãe. Hoje ?sua empresa cresce junto com o mercado brasileiro ?de PCs e é a única licenciada da Intel no mundo
A Digitron de hoje em quase nada lembra a tímida empresa do início da década. Sua nova fábrica, em Manaus, é uma das mais modernas do mundo entre suas concorrentes: são 14 000 metros quadrados e capacidade de produção de 1 milhão de placas por mês. Estima-se que o investimento conjunto com a Intel tenha chegado a 12 milhões de dólares, dos quais 10 milhões foram destinados à montagem da linha de produção e outros 2 milhões a ajustes nos equipamentos da Digitron. Uma das características mais marcantes da produção de alta tecnologia é o monitoramento da qualidade das placas. Cada uma recebe um selo e um número e pode ser acompanhada via internet, em tempo real, pelo time da Intel nos Estados Unidos. Assim, é possível saber onde está cada placa, em qual etapa de fabricação ou se apresentou defeito.
Muitos dos resultados conquistados pela Digitron — que detém cerca de 50% das vendas oficiais — tiveram a ver com a visão um tanto otimista de Song. Corria o ano de 2003 quando o empresário fez o contrário daquilo que muitos executivos fariam diante da batalha quase perdida para a importação clandestina. Em vez de trocar de ramo ou apostar em um novo produto, ele ampliou a produção. “Nossa briga sempre foi contra o contrabando, que não deixava o mercado ter nem volume nem preço”, diz. Naquela ocasião, a capacidade produtiva da empresa, que fabrica também placas de rede, de vídeo e fax-modem, não passava de 40 000 unidades. A produção real era metade disso. Mas Song acreditava que essa dinâmica tendia a mudar e que, para isso, quem estivesse preparado para o momento da explosão dos PCs legalizados sairia ganhando. “Era questão de acreditar. Eu achava que o consumidor passaria a procurar máquinas com garantia, coisa que o contrabando não fornecia.”
Naquele ano, Song investiu cerca de 20 milhões de reais para dobrar suas linhas de produção. Sua capacidade saltou para 80 000 placas por mês. A aposta foi certeira e, em 2005, a Digitron havia mais que duplicado seu faturamento, chegando a 220 milhões de reais. A estratégia despertou a atenção da Intel, que, por meio de seu braço de investimentos Intel Capital, buscava fomentar a fabricação de placas no Brasil e combater o contrabando, que afetava seus parceiros. As empresas fecharam, então, um acordo e a Intel tornou-se sócia minoritária da brasileira. “A idéia era apoiar o crescimento da Digitron, que já tinha o dobro dos pedidos que conseguia atender”, diz Ricardo Arantes, gerente de investimentos estratégicos da Intel. O valor do acordo não foi revelado, mas a Digitron usou os investimentos para maquinário, capital de giro e para construir uma segunda fábrica em Manaus.
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